quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

PERNILONGOS MUTANTES




Ontem a tardezinha,já quase quase anoitecendo,sentei sózinha e feliz, na varanda para tomar minha cervejinha  ( sem antioxidante e sem cereais não maltados ) . Não vou falar a marca para não fazer propaganda de graça...kkkkk
Bom...ocorre que imediatamente fui assediada pelos peludos sanguessugas de asa que cantam fium...fium...fium...

Preciso de tres mãos : uma para segurar o copo,outra para pegar o amendoim e mais uma sobressalente para segurar aquela mãozinha de plastico que mata mosca.
Muito contrariada com a presença dos minusculos alienigenas,levantei para pegar minha lamparina de citronela e quando voltei o que vejo ? Os famigerados bicudos pousados na borda do meu copo de cerveja, sugando meu precioso suco de cevada. Dois deles jaziam mortos dentro do copo, e tres esperneavam encharcados mas felizes nas gotas que cairam na bandeja.
Ora...então o centro das atenções não era eu ?Não procuravam meu sangue nobre,azul e taquaritinguense ? Que espécie nova e mutante de pernilongo é essa,que troca sangue por cerveja ? Teriam sido criados em recipientes laboratoriais obscuros do bar do Tadao ?
Pasmei !
Hoje já estou com tudo planejado. Vou pra varanda com um copo a mais e uma dose extra de cerveja ( não pro Pai Caboclo ) mas para os pernas longas peludos,bicudos e mutantes.Quem sabe assim eles me deixam em paz !
Só por Deus viu !
                                  Maria da Penha Boselli* / 2017


                        

ESPERANDO O CAFÉ ESFRIAR



Sentada na mesa, enquanto passava geléia no pão, entrei em devaneio pensando quantas e quantas vezes na vida repeti esse gesto, por todos os lugares onde passei…Um sentimento enorme de gratidão se apossou de mim. Que Benção !
Desviei o olhar para a xícara de café e senti o aroma marrom bem quente.A fumaça que desprendia da xícara era um sinal que a bebida ainda estava muito quente e carecia um tempinho para ser degustada. Enquanto espero…uma breve oração para começar o dia.

Quando vou para Taquaritinga repito o mesmo gesto de manhã, mas as marcas de café são outras e das geléias também. Geralmente geleias caseiras da minha irmã ou fazendas próximas, com produção caseira ( artesanal ) e café do sitio de amigos ou cidadezinhas próximas, com marcas que nem aparecem nas gôndolas dos mercados aqui em Sampa.
A minha hora de esperar o café esfriar é sempre igual e independe do lugar onde possa estar : aqui em Sampa ou em Taquaracity. Enquanto o café esfria, fico a pensar na vida ( no presente, passado e no futuro ) fazendo um breve balanço que me revela o quanto fui feliz, protegida e abençoada desde o dia que nasci.
Na minha visão das coisas, todo mundo deveria sentar na mesa de manhã,em frente uma xícara de café. ( nem que a mesa fosse um caixote de madeira ).Não importa a marca do café,a cor da xicara nem o lugar ( mansão, hotel cinco estrelas ou ponte de viaduto ) Sentar de frente para a mesa ( ou caixote) e esperar o café esfriar, é um hábito mágico,que nos leva ao mundo imaginário de sonhos,constatações e revelações ; trazendo sempre bons fluidos para o dia começar melhor.

   
                           Maria da Penha Boselli* / 2017

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

CASTELO DE AREIA

Estamos com reforma na parte coletiva do meu prédio aqui em Sampa, e isso envolve troca do piso; portanto ha meses que ouço diariamente uma lixa que corta as pedras uma a uma,na medida e tamanho certo ( para que se encaixem com precisão ) Ou seja : estou ( e todos os moradores também ) passando por um estresse auditivo irritante, constante e torturante, mas é uma obra necessária para melhoria do prédio.Porém a noite a gente dorme. A rua aqui costuma ser calma e podemos dormir em paz. Já não é o que acontece aí em Taquaritinga.
Tenho visto no facebook inúmeras reclamações de moradores no centro da cidade, sobre festas noturnas barulhentas e regadas a muita droga,bebida e gritaria. Digamos …que rola de madrugada em fins de semana um coletivo barulhento e descontrolado que perturba o sossego de moradores locais. Calçadas amanhecem regadas a vómito e xixi. Alguns cidadãos, nesses momentos de insanidade coletiva, tem medo até de abrir a janela para ver que está acontecendo. Uma das vezes que reclamei no face, responderam em comentário : tia toma um tarja preta e vai dormir.
Fico pensando…será que devo me mudar também ? Talvez o centro não seja mais um lugar bom para residir…A cidade mudou tanto…os costumes não são mais os mesmos…as pessoas não tem mais a mesma consideração com as outras como antes…a maneira como as pessoas se divertem mudou com o tempo…a juventude adquiriu outros valores…outras maneiras de manifestar alegria…Fazer xixi e outras coisas mais embaixo da janela alheia virou “rotina”,coisa normal.
Pergunto a mim mesma se adianta tomar tarja preta,mudar de local ou reclamar com alguém…No caso quem ? Esse tipo de fenômeno social, mostra que a sociedade está “doente"de alma?Falida em costumes? Ausente em espiritualidade ? Carente de conhecimento sobre a verdadeira essência da vida? Eu é que estou intolerante e deslocada no tempo ?
Não sou chata, velha nem gagá ! Não quero ser “estraga prazer”da juventude, mas é bom lembrar que um coletivo para ser saudável tem que praticar o respeito individual entre as pessoas ( meu limite e o teu ) do contrário corremos o risco de viver em uma sociedade cada vez mais frágil, que vai sendo minada na base,como o castelo quando construido na areia.Né Não ?
                                            Maria da Penha Boselli* / 2017


CADE CORAGEM ?

São quase onze horas e eu nem tirei o carro da garagem ainda…Geladeira vazia ( nem chuchu,nem abobrinha,nem cebola mandioquinha ou batata ) nada que possa virar um almoço razoável.
Tenho o açougue São Luis aqui na frente que vende opções tipo queijos carnes,esfihas e …hã….hum….cervejas,né ? Então o suco do almoço tá garantido.Mas nosso corpo também precisa legumes,fibras,folhas cruas e o lugar mais próximo para adquirir tais produtos é o Satoshi ( dois quarteirões a pé ) que eu não encaro nem a pau Juvenal ! Com esse sol escaldante e calor insuportável ? Naninha ! Cadê coragem ?
Por que o açougue São Luis não abre uma quintandinha aí do lado ? Ia ser bom né ? Matava dois coelhos com uma cajadada só !
Coloquei a roupa no varal não faz cinco minutos e está seca esturricada.Se eu andar dois quarteirões a pé até o Satoshi,chego lá desidratada que nem ameixa seca. Vo não ! Em ultimo caso atravesso a rua e me viro com que tem no açougue São Luis. O varejão fica pra depois. Taquara Saara City  tá que nem boca de forno,só vou pra rua quando a tarde refrescar.


                         Maria da Penha Boselli* / 2017


                                       

ESPERANDO O CARNAVAL CHEGAR


O clima na cidade é de expectativa. Percebo as pessoas num corre corre diferente…como quem sabe que,nesse fim de semana, tem inicio um descanso prolongado.
Depende…Enquanto alguns estão a espera de descanso,outros estão na expectativa de encarar aeroportos e rodoviárias  em frénésie, a partir de sexta a noite, rumo a outros carnavais, outros ares, outras folias.
Eu estou na expectativa de que a reforma aqui do prédio acabe logo ( ainda essa semana ) para poupar meus ouvidos desse barulho irritante de máquina lixando pedra.
Tenho planos para dos dias de Momo mas não posso revelá-los. Se o fizesse, alguns leitores me julgariam estranha, esquisita e incomum.
Taquaritinga prepara-se para receber o Batatão,a Jardineira e outros blocos carnavalescos da cidade. Uma parte da população está envolvida em batuques, fantasias ,sambinhas temáticos e bares. A outra, espera apenas que os dias de folia aconteçam na paz : sem brigas, desentendimentos,ocorrencias policiares e sujeira nas ruas.
Como sempre acontece todos os anos, nesses dias de carnaval o Brasil dá impressão que pára.Que tudo permanece suspenso.Será ..?
Não podemos esquecer que enquanto Momo brilha,nos bastidores dos sambódromos e do Brasil ( comites e comissões, grupos, partidos e associações ) continuam seus conchavos,alianças e acordos, camuflados pelo brilho das lantejoulas, purpurinas,plumas e paetês.
                       

                 Maria da Penha Boselli* / 2017

CARNAVAL A MODA ANTIGA


Os bloquinhos de bairro e vilas não cessam de aparecer aqui em Sampacity na época de carnaval.Dois anos passados surgiu aqui na Vila Clementino um cordão de carnaval bem simples colorido e com pessoal do bairro. O bloco desceu a 11 de Junho com familias,crianças,uma banda num trio elétrico pequeno, muita fantasia, modinhas antigas e uma ambulância atras, seguida de uma equipe de varredores de rua, pra já deixar tudo limpinho. Dá pra perceber que houve organização no evento.
O desfile carnavalesco vai caminhando num circuito que demora no máximo duas horas.No bloco todo mundo se conhece e se diverte sem estresse.
Esse ano o bloquinho passou ontem a tarde, e por toda cidade de São Paulo surgem cordões carnavalescos pequenos em busca de uma diversão mais light, sem características empresariais, de mídia, lucros exorbitantes, massa de gente em excesso e sem hora para acabar.
O carnaval de sambódromo é outro carnaval.Outro estilo de comemorar o reinado de Momo.Assumiu proporções dantescas, lucrativas, empresariais e turísticas ( além de pactos obscuros ) Deixou de ser carnaval para virar  “ fábrica de carnaval "
A Jardineira fez sucesso em Taquaritinga porque arrebanhou um público que não se interessa mais pelo carnaval de longas madrugadas, barulhentas e estressantes.



Existe uma fatia de gente que gosta de carnaval, mas de uma maneira segura e moderada ; sem exagero e sem multidão descontrolada.
Carnaval de Sambódromo é pra ver na televisão. Carnaval de bloquinho é pra se divertir em paz.
O Batatão já foi melhor e deveria seguir o exemplo da Bahia,onde o Trem Elétrico caminha com circuito certo para começar e terminar. Ninguém fica parado no mesmo lugar.Não sei se seria viável, mas pode ser pensado. 

Se o objetivo do Batatão antigamente, era se contrapor á elite que frequentava o Clube Imperial, isso não faz mais sentido, porque o Clube nem existe mais.Os tempos são outros. Mas…se o objetivo era ficar perto dos bares ( que existiam aos montes no centro da cidade ) isso também já era, porque hoje só existem lojas e mais nada. O point agora de bares,restaurantes,lanchonetes e lazer foi para a avenida Paulo Escandar.
Bom mesmo seria que cada vila ou bairro da cidade fizesse seu próprio bloquinho de carnaval, com músicos da comunidade, amparados pela secretaria da cultura e moradores locais. Uma nova maneira de se divertir : carnaval tranquilo, sem estresse, sem atravessar longas madrugadas e mais familiar. 
De repente os tempos são outros, nada precisa continuar como sempre foi, ninguém precisa seguir o modelo importado de outros lugares, nem ficar “congelado" num instante do passado. Existem outras maneiras de vivenciar o carnaval. Basta planejar e ter coragem de mudar.
                     Maria da Penha Boselli* / 2017